"Vem cá, deixa eu contar
uma fofoca." Quem nunca fez ou aceitou um convite como esse? Conversas
dessa natureza são tão comuns no ambiente profissional que dificilmente se
percebe os estragos que causam: afetam o clima, constrangem os envolvidos e
impactam negativamente o trabalho. Sendo assim, elaborar estratégias para
acabar com os fuxicos não é perda de tempo. Para planejá-las, no entanto, é
preciso identificar a origem do problema.
Quando falar mal uns dos outros
vira rotina entre professores e funcionários é sinal de que os vínculos não vão
nada bem. "A falta de respeito, cooperação e solidariedade deixa o
ambiente propício para conversas maldosas. Consegue-se reverter esse cenário quando
a escola passa a refletir constantemente sobre esses valores", afirma Ana
Aragão, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral da Universidade
Estadual de Campinas (Gepem/Unicamp).
Antes de tudo é preciso que os
gestores estejam blindados em relação às fofocas. Uma boa medida é avaliar as
próprias atitudes em relação à equipe. "Compreender as individualidades e
os diferentes tempos que cada um leva para se adaptar ou se enturmar faz com
que professores e funcionários se sintam respeitados e deixem de criticar os
superiores pelas costas", diz Célia Godoy, consultora de gestão escolar do
Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de São Paulo.
Tão importante quanto isso é
não se deixar influenciar pelas histórias que chegam aos seus ouvidos por meio
da "rádio peão" - como é conhecida a fofoca no meio corporativo - nem
participar dela levando o assunto adiante ou dando atenção demasiada a quem
está disseminando o diz que diz que.
Desrespeito é condição básica
para o surgimento de papos mal-intencionados
De modo geral, Ana Aragão
sugere que o projeto político-pedagógico (PPP), documento que traz os
princípios que norteiam o trabalho da instituição, sirva de base para a
discussão em reuniões, grupos de estudos ou seminários que visem discutir o
problema. Foi o que ela fez entre 2003 e 2008 na EMEF Padre Francisco Silva, em
Campinas, a 98 quilômetros de São Paulo, quando atuou como consultora. Lá, Ana
percebeu que os docentes falavam mal uns dos outros e que os problemas de
relacionamento entre os membros da equipe gestora rapidamente eram expostos.
Ela mesma passou a ser procurada pelos professores que queriam criticar o
comportamento de alguém.
Como forma de reverter o
cenário, a pesquisadora propôs discussões sobre os valores presentes no PPP.
Semanalmente, durante duas horas, as relações interpessoais no trabalho foram o
principal assunto em pauta. Todos disseram como poderiam mudar a própria
postura, o que esperavam da dos colegas e relacionaram as dificuldades da
rotina. Depois de um ano, os educadores se sentiram seguros para explicitar atitudes
que lhes desagradavam -- um professor gritando com os alunos, por exemplo -, o
que antes certamente seria tratado em pequenos grupos com comentários nada
construtivos.
"Dois cuidados precisam
ser tomados nesse trabalho. O primeiro é preservar as pessoas. As ações devem
ser trabalhadas de forma coletiva para que a equipe entenda que o problema é de
todos e não de uma só pessoa. O segundo é resolver todas as reclamações. A
falta de posicionamento dá margem para que as fofocas voltem a aparecer",
afirma Ana.
Assista ao terceiro vídeo da
série Como Lidar com a Equipe, com o consultor Antônio Carlos Carneiro.