quarta-feira, 17 de agosto de 2016

FOFOCA NUNCA MAIS

"Vem cá, deixa eu contar uma fofoca." Quem nunca fez ou aceitou um convite como esse? Conversas dessa natureza são tão comuns no ambiente profissional que dificilmente se percebe os estragos que causam: afetam o clima, constrangem os envolvidos e impactam negativamente o trabalho. Sendo assim, elaborar estratégias para acabar com os fuxicos não é perda de tempo. Para planejá-las, no entanto, é preciso identificar a origem do problema.

Quando falar mal uns dos outros vira rotina entre professores e funcionários é sinal de que os vínculos não vão nada bem. "A falta de respeito, cooperação e solidariedade deixa o ambiente propício para conversas maldosas. Consegue-se reverter esse cenário quando a escola passa a refletir constantemente sobre esses valores", afirma Ana Aragão, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral da Universidade Estadual de Campinas (Gepem/Unicamp).

Antes de tudo é preciso que os gestores estejam blindados em relação às fofocas. Uma boa medida é avaliar as próprias atitudes em relação à equipe. "Compreender as individualidades e os diferentes tempos que cada um leva para se adaptar ou se enturmar faz com que professores e funcionários se sintam respeitados e deixem de criticar os superiores pelas costas", diz Célia Godoy, consultora de gestão escolar do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de São Paulo.

Tão importante quanto isso é não se deixar influenciar pelas histórias que chegam aos seus ouvidos por meio da "rádio peão" - como é conhecida a fofoca no meio corporativo - nem participar dela levando o assunto adiante ou dando atenção demasiada a quem está disseminando o diz que diz que.

Desrespeito é condição básica para o surgimento de papos mal-intencionados

De modo geral, Ana Aragão sugere que o projeto político-pedagógico (PPP), documento que traz os princípios que norteiam o trabalho da instituição, sirva de base para a discussão em reuniões, grupos de estudos ou seminários que visem discutir o problema. Foi o que ela fez entre 2003 e 2008 na EMEF Padre Francisco Silva, em Campinas, a 98 quilômetros de São Paulo, quando atuou como consultora. Lá, Ana percebeu que os docentes falavam mal uns dos outros e que os problemas de relacionamento entre os membros da equipe gestora rapidamente eram expostos. Ela mesma passou a ser procurada pelos professores que queriam criticar o comportamento de alguém.

Como forma de reverter o cenário, a pesquisadora propôs discussões sobre os valores presentes no PPP. Semanalmente, durante duas horas, as relações interpessoais no trabalho foram o principal assunto em pauta. Todos disseram como poderiam mudar a própria postura, o que esperavam da dos colegas e relacionaram as dificuldades da rotina. Depois de um ano, os educadores se sentiram seguros para explicitar atitudes que lhes desagradavam -- um professor gritando com os alunos, por exemplo -, o que antes certamente seria tratado em pequenos grupos com comentários nada construtivos.

"Dois cuidados precisam ser tomados nesse trabalho. O primeiro é preservar as pessoas. As ações devem ser trabalhadas de forma coletiva para que a equipe entenda que o problema é de todos e não de uma só pessoa. O segundo é resolver todas as reclamações. A falta de posicionamento dá margem para que as fofocas voltem a aparecer", afirma Ana.


Assista ao terceiro vídeo da série Como Lidar com a Equipe, com o consultor Antônio Carlos Carneiro.

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