Por Francisco Ferraz
Tomar a decisão de concorrer é um problema que afeta a todos os pré-candidatos
a uma eleição. Para alguns se trata do próximo passo numa carreira já assumida.
Para outros, entretanto, implica numa decisão complexa e até angustiante.
A decisão de concorrer empurra o candidato para o melhor e para o pior dos
mundos.
É uma experiência inesquecível que, no breve espaço de tempo em que ocorre,
traz à tona o melhor e o pior das pessoas.
Você deve pensar bastante antes de dar este passo. Concorrer implica em
jogar-se num mundo novo, fascinante e atemorizante, que tem o poder de fazer
com que sua vida nunca mais seja como era antes. Ela será melhor ou pior, mas o
certo é que não será igual.
Poucas atividades produzem um envolvimento pessoal tão intenso e tão exigente
quanto à de ser um candidato. A candidatura provoca altos e baixos no seu humor
e sentimentos, a cada dia ou mesmo a cada hora.
Com a decisão de concorrer, você transita, de maneira imediata, do mundo
privado para a esfera da vida pública. Nesta passagem há perdas e ganhos. Você
perde a proteção de sua privacidade, o comando do seu tempo, e muito da
qualidade de sua vida pessoal e familiar.
Você por outro lado, ganha a experiência única de participar e influir nas
questões maiores da sua comunidade, o envolvimento no mais emocionante dos
jogos que um adulto pode jogar e a condição honrosa, para você e sua família de
poder tornar-se uma autoridade pública.
A decisão de concorrer, portanto, considerando-se todos os aspectos que
envolve, exige uma madura reflexão prévia e um julgamento sóbrio e realista.
Você tem que entrar sabendo para não se arrepender depois.
Embora quem decida concorrer o faça na expectativa da vitória, é oportuno estar
consciente de que, somente uma fração pequena dos que se candidatam conseguirá
se eleger. Saber conviver com a derrota é, pois, uma condição psicológica
indispensável.
É bem verdade que as derrotas na política, não são absolutas. Sua votação é seu
capital. Um candidato derrotado para uma função pode vir a ocupar outra
(derrota parcial/vitória parcial) em razão da votação que logrou fazer. É,
pois, possível permanecer no “jogo”, mesmo não tendo obtido sucesso na disputa
que enfrentou.
Para quem decidiu concorrer, portanto, o importante é continuar no jogo, o que
se consegue com o apoio dos eleitores, mesmo que em número insuficiente para se
eleger.
A competição política, como disputa, não é uma escaramuça simples, onde pessoas
de “pele sensível” se enfrentam.
Ela exige, ao contrário, “pele grossa” para resistir os ataques, muita determinação,
vontade e firmeza. Os melhores candidatos são operadores “duros”, capazes de
aplicar tantos golpes quanto os que recebem.
Deve-se estar preparado para lidar com gestos tocantes de apoio e
solidariedade, assim como gestos de covardia e traição. Deve-se ser capaz de
inspirar outros, de motivá-los, de identificar-se com os seus sentimentos e
desejos, sem comprometer sua visão estratégica e racional. Não se faz campanha
sem emoção, mas não se ganha sem planejamento e racionalidade.
A decisão de concorrer implica também na decisão de preparar-se para a campanha
eleitoral. O talento para a política pode ser inato na pessoa. Como em outras
áreas, entretanto, o aproveitamento do talento como um diferencial na
competição, dependerá sempre da disciplina, da preparação, do aprendizado e, no
caso da política, da capacidade de produzir um trabalho coletivo.
O talento, sem estes acompanhamentos, pode produzir lances brilhantes, mas
carecerá da continuidade, da profundidade e da disciplina, sem as quais dificilmente
se conquista a vitória.
Há um conhecimento, testado e comprovado, sobre eleições e campanhas
eleitorais, que o candidato não pode ignorar. Mais ainda, este é um
conhecimento que está em constante transformação e evolução, de forma que,
mesmo os políticos experientes, precisam se atualizar.
Uma campanha eleitoral moderna é um empreendimento muito complexo e
sofisticado, quando comparado com as formas antigas e tradicionais de fazê-la.
Correndo contra um tempo que sempre é inferior ao desejável, e, contra uma
necessidade de recursos que sempre é maior do que a disponibilidade, o
planejamento e a organização para a coleta de informações, o posicionamento
estratégico da candidatura, o marketing da campanha e as atividades presenciais
do candidato, são imperativos dos quais dependem as chances de sucesso na
disputa.
Na realidade, a campanha eleitoral é uma empresa (em certos casos, uma grande
empresa) feita para durar alguns meses e produzir uma vitória. Montar esta
empresa, sustentá-la e operá-la com eficiência, constitui um desafio que, por
certo, exige preparação prévia e conhecimento.
A condição primeira, para que estas exigências da moderna campanha eleitoral
sejam satisfeitas, é:
Uma decisão de concorrer, assumida “com gosto”, disposição para enfrentar o
que vier pela frente e a ambição de vitória.
*Politica
para políticos.