É na interação que o sujeito
aprende e ensina. Daí, podemos depreender a importância de se organizar o
espaço escolar, mais especificamente o da sala de aula, para receber os alunos
e proporcionar que haja meios de garantir esse estreitamento de vínculo. Conforme
nos fala OLIVEIRA (1997), em seus estudos sobre o pensamento de VIGOTSKY:
A
interação face a face entre indivíduos particulares desempenha
um papel fundamental na construção do ser
humano: é através da relação
interpessoal concreta com outros homens que
o indivíduo vai chegar a
interiorizar as formas culturalmente
estabelecidas de funcionamento
psicológico.
Segundo as conclusões da
autora, a vida social ocorre de maneira dinâmica, onde cada sujeito participa
ativamente de seu meio estabelecendo uma relação entre o mundo cultural e o
mundo interno de cada um. O conhecimento a respeito de todo esse universo
cultural e particular se dá através das interações estabelecidas entre os
indivíduos no meio social em que participam.
Temos então que a maneira como
é organizado o espaço em sala de aula reflete diretamente em como se dá essa
interação e o trabalho pedagógico docente como um todo. É importante que a
organização priorize aspectos indispensáveis para a construção da aprendizagem,
tais como vivência da prática do diálogo entre os indivíduos envolvidos neste
processo.
Para qualquer finalidade, é
necessário que ambiente seja acolhedor e que motive a troca entre os alunos e
professores, mas dependendo da situação específica, o espaço pode ser
organizado de maneira diferente para atender a necessidade de forma mais
pontual. Por exemplo, num momento de debate entre toda a turma, é interessante
que as carteiras estejam dispostas em círculos para que todos possam olhar uns
para os outros e terem a sua vez de expor seus pontos de vista. Deste modo, o
debate fica mais face a face e a compreensão da ideia é favorecida já que é
possível reconhecer no outro as expressões faciais, além da própria fala em si.
MANEIRAS DE ORGANIZAR AS
CARTEIRAS EM SALA DE AULA
FREITAS(2008) nos diz que é essencial
discutir as disposições das carteiras, pois "[...] são fundamentais para
contribuir com a aprendizagem de forma significativa.”. Elas devem mudar de
posição de acordo com a aula planejada, atendendo aos seus objetivos já que é
sabido que aprendemos na interação com o outro e com os espaços. Ele afirma
ainda que a forma menos indicada para dispor as carteiras da sala de aula é a
enfileirada, pois não proporciona as interações necessárias e fortalecem a
relação de autoridade do professor com o aluno.
Carteiras
enfileiradas
Na tradicional organização das
carteiras enfileiradas, é possível pensar no professor transmitindo o
conhecimento enquanto os alunos o absorvem, a metodologia denota estar centrada
no professor, de forma diretiva, onde cabe a ele organizar e sistematizar o
conteúdo que deseja que seus alunos aprendam. A avaliação costumeira neste
enfoque é a que mede os conhecimentos quantitativamente, onde são distribuídos questionários
aos quais os alunos devem responder e devolverem o conteúdo conforme lhes foi
transmitido.
Este tipo de organização não
favorece o diálogo entre os sujeitos, o relacionamento com o professor se dá de
maneira vertical, onde ele está acima do aluno e, portanto, não há espaço para
o diálogo.
Apesar disso, em alguns
momentos, essa maneira de dispor as carteiras pode ser necessária, tal como
durante a aplicação de uma prova individual, mas se torna inviável no dia-a-dia
em sala de aula onde há necessidade da troca de conhecimentos para que o aluno
construa seu conhecimento com autonomia e de maneira ativa.
Mesas
agrupadas
As mesas dispostas em pequenos
grupos favorecem a interação e diálogo entre os alunos, bem como a intervenção
do professor que caminha pela sala participando das discussões dos mesmos.
É uma maneira de oferecer
condições para que o aluno possa utilizar de seus conhecimentos prévios para
debater no grupo e encontrar soluções para os exercícios propostos pelo
professor.
A reflexão torna-se presente
neste tipo de agrupamento, já que o aluno precisa pensar e repensar a respeito
de suas ideias para exteriorizá-las de maneira que traga acréscimo de
informações ao grupo.
Neste sentido, podemos citar
GADOTTI (2003):
Nós,
seres humanos, não só somos seres inacabados e incompletos como temos
consciência disso. Por isso, precisamos aprender “com”. Aprendemos “com” porque
precisamos do outro, fazemo-nos na relação com o outro, mediados pelo mundo,
pela realidade em que vivemos.
Partindo deste ponto de vista,
temos que a aprendizagem se dá na troca de conhecimentos, atribuindo a partir
daí sentido próprio ao que foi compartilhado, onde todos os alunos podem
encontrar espaço para participarem e exporem suas ideias de maneira que possa
assim construir conjuntamente e individualmente o sentido tão necessário ao
objeto de estudo, seja ele qual for.
Dispostos
em círculo
Neste tipo de disposição tanto
professor quanto alunos se colocam em nível de igualdade, numa relação
horizontal, não diretiva, onde há respeito pelas opiniões e o saber não se
centra num só indivíduo, mas nos diferentes pontos de vista que são estimulados
a virem à tona no debate.
O processo de diálogo estimula
a curiosidade, no que nos diz FREIRE (1996):
O
sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação
dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão
em permanente movimento na História.
O diálogo é prática necessária
e indispensável das atuais didáticas educacionais, onde é valorizado o
conhecimento prévio do aluno através de seus relatos de vivência, estabelecendo
relações com outras situações e construindo assim novas aprendizagens.
Professor e aluno são aliados
no processo de ensino e aprendizagem, o professor faz a mediação entre o
conhecimento e o aluno, valorizando suas experiências já que para tornar a
aprendizagem significativa deve estabelecer uma relação com a realidade em que
esse aluno atua.
Portanto, podemos notar que a
disposição de mesas em círculo são adequadas para situações de debate, onde se
busca soluções em conjunto para um problema levantado, tomada de decisões etc.
CONCLUSÃO
A forma adequada de dispor as
mesas em sala de aula vai depender dos objetivos específicos de cada momento e
das estratégias de ensino que o professor deseja utilizar. É importante que o
espaço favoreça a possibilidade de se rearranjar a disposição das mesas
conforme necessário.
Se a necessidade é de aplicar
um teste de conhecimento para avaliar o aluno individualmente, a forma que mais
favorece é a enfileirada. Durante estas avaliações não é permitido que os
alunos conversem entre si, há um objetivo definido pelo professor para que essa
avaliação seja realizada deste modo, portanto, não se pode concluir que seja
errado a disposição das carteiras deste jeito, mas necessário que seja assim
durante este momento. Se o professor precisa explanar um assunto e necessita de
“ordem” na classe, também é o tipo de organização que mais favorece.
Durante as aulas, justifica-se
o uso das mesas agrupadas sempre que o professor desejar que os alunos
interajam na busca de soluções e para a resoluções de exercícios onde podem
trocar conhecimentos até conseguirem solucionar o problema.
E finalmente, a organização em
círculo é adequada para os momentos de discussão onde se faz necessário
oportunizar a todos a chance de colocarem suas ideias verbalizadas.
O que se conclui é que não há
uma única maneira de organizar o espaço da sala de aula, não há o que seja
certo ou errado, mas de acordo com o momento se faz necessário o uso de formas
diversas de organização. O professor precisa saber exatamente qual é a
intencionalidade da sua ação para definir as melhores estratégias, inclusive
tendo como uma das principais, a organização do espaço em sala de aula.
BIBLIOGRAFIA
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, 1996.
Disponível em: Acesso em: 03 nov. 2013.
FREITAS,
João Batista de. A organização do espaço escolar favorece a qual aprendizado?
Humus Consultoria, 2008. Disponível em: Acesso em 03 nov. 2013.
GADOTTI,
Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar e aprender com sentido / Moacir Gadotti -
Novo Hamburgo: Feevale, 2003.
OLIVEIRA,
Marta K. de. Vygotsky. Aprendizado e desenvolvimento: Um processo
sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997. (Pensamento e ação no magistério).
TEIXEIRA,
Madalena Telles; REIS, Filomena. A Organização do Espaço em Sala de Aula e as
Suas Implicações na Aprendizagem Cooperativa. Meta: Avaliação | Rio de Janeiro,
v. 4, n. 11, p. 162-187, mai./ago. 2012. Disponível em: Acesso em 3 nov. 2013.
Texto
por: Alda Cavalcante Bezerra: http://www.aldacavalcante.com/2014/02/a-importancia-da-organizacao-do-espaco.html
Imagens pessoais feitas nas escolas: Gal Campos em Camocim e Dr. Vicente Arruda em Martinópole