Qual é a
função da educação? Socializar o conhecimento acumulado pela humanidade?
Preparar as novas gerações para a inserção no mundo? Adaptar as crianças e
jovens ao mundo gerado pelas gerações que os antecederam? Contribuir para o
processo de humanização? Preparar os jovens para o mercado de trabalho? Formar
cidadãos críticos e conscientes?
As respostas
são afirmativas. O que demonstra o quanto o processo educativo é complexo,
abrangente e historicamente determinado. Isto significa que a ênfase em um ou
outro aspecto do educar é determinado socialmente. Nas diferentes épocas da
história, as sociedades impõem seus valores às novas gerações e, assim, geram
determinadas expectativas sobre a educação. Através desta, as sociedades
transmitem conhecimentos e normas de conduta padrões às crianças e jovens. O sucesso
destes depende da assimilação e internalização do padrão considerado normal.
Quanto mais adaptado, maior as possibilidade de que o indivíduo seja plenamente
integrado.
Por muito
tempo, o espaço familiar, o grupo, a comunidade, etc., foram suficientes para
proporcionar o processo de socialização. Contudo, a complexidade e a extensa
diversificação das funções nas sociedades modernas debilitaram sua capacidade
em promover a integração social das novas gerações. A socialização das novas
gerações no mundo do trabalho e na sociedade em geral passou a exigir a
intervenção de instituições específicas. Paulatinamente, recaiu sobre a escola
a função socializadora, ainda que a família e outras esferas da vida em
sociedade também contribuam nesta direção. Não obstante, a escola passou a ser
caracterizada pela função peculiar de promover o processo de socialização.
A escola
enquanto instância específica para socializar as novas gerações tem uma
característica essencialmente conservadora. Sua função é garantir a reprodução
social e cultural dos valores e conhecimentos necessários à manutenção do
status quo, à conservação da sociedade de acordo com a expectativa
predominante. Esta função também é assumida por outras instituições e grupos da
vida social: família, meios de comunicação, religião, mundo do trabalho, etc.
Como nota
Gómez: “A escola por seus conteúdos, por suas formas e por seus sistemas de
organização, introduz nos alunos/as, paulatina, mas progressivamente, as
idéias, os conhecimentos, as concepções, as disposições e os modos de conduta
que a sociedade adulta requer. Dessa forma, contribui decisivamente para a
interiorização das idéias, valores e normas da comunidade, de maneira que
mediante este processo de socialização prolongado a sociedade industrial possa
substituir os mecanismos de controle externo da conduta por disposições mais ou
menos aceitas de autocontrole”.*
Porém, a
sociedade é repleta de contradições e também a escola, enquanto expressão
desta. Além disto, a sociedade não é estática, ela se transforma pela ação dos
homens e mulheres que fazem a história. O desenvolvimento social produz
mudanças que exigem a reconfiguração das expectativas e exigem novas atitudes.
A escola vê-se, então, diante do desafio de se adequar às novas exigências.
A função
reprodutora da educação é tencionada pela tendência em “modificar os caracteres
desta formação que se mostram especialmente desfavoráveis para alguns dos
indivíduos e grupos que compõem o complexo e conflitante tecido social”.** Ou
seja, a lógica conservadora da instituição que educa é desafiada constantemente
por outra lógica, a da mudança. Educa-se, portanto, para conservar a ordem
social, mas também para transformá-la. Ainda que prevaleça a educação
conservadora.
* SACRISTÁN, J. Gimeno; GÓMEZ, A. I.
Pérez. Compreender e transformar o ensino. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007,
p. 14,
** Idem.