É conhecido de todos o fato narrado na Bíblia sobre a
crucificação de Jesus entre dois ladrões. Um deles, em dado momento,
compadeceu-se da dor de Cristo e reconheceu sua inocência, repreendendo o
outro, que fazia pilhéria. A tradição católica o chamou de Dimas, o “bom
ladrão”.
Na visão soteriológica (estudo da salvação da
humanidade), ele seria o único com a garantia da salvação, pois Jesus lhe
disse: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.
Trago o exemplo de são Dimas, aquele que se arrependeu no
momento final, numa analogia com o debate ideológico existente hoje em nosso
país. Sob o pretexto de “varrer” a corrupção, deram um golpe na democracia para
retirar a presidente Dilma Rousseff. Vimos a classe média revoltar-se e bater
panelas, contagiando com seu ódio até setores populares. Mas nada como um dia
após o outro…
Os fatos recentes comprovam que as medidas de combate à
corrupção adotadas nos governos Lula e Dilma resultaram no fortalecimento e
independência das instituições de controle, sem os quais a Lava Jato nem sequer
existiria. A lista é longa: criação da Controladoria Geral da União,
transformação da corrupção em crime hediondo, aumento da pena para corruptos,
garantia de autonomia à Polícia Federal, nomeação do procurador geral da
República escolhido pelo Ministério Público Federal, entre outras.
É com esta independência que, agora, tentam condenar um
inocente. O motivo: o triplex no Guarujá, que não se provou ser de Lula, foi
ironizado até por Paulo Maluf, tradicional político de direita, para quem o
apartamento equivale a três do Minha Casa, Minha Vida. A fragilidade da
acusação foi identificada pela juíza Maria Priscilla Ernandes, da Quarta Vara
Criminal de São Paulo, que arquivou o caso por conter “alegações vagas” e
erros. Ao juiz Sergio Moro, setenta e duas testemunhas confirmaram a inocência
de Lula. De nada adiantou.
E quanto aos paladinos do combate à corrupção? Não faltam
escândalos envolvendo próceres tucanos e de outros partidos. Lembremos, por
exemplo, o senador José Serra, também delatado, acusado de receber R$ 23
milhões da Odebrecht em uma conta na Suíça. E outros como o deputado federal
Bruno Araújo (PSDB-PE), que deu o voto decisivo para o impeachment, virou
ministro e hoje é investigado com autorização do STF. No cenário político
mineiro, não é diferente.
Entre os que querem derrubar o governo Pimentel, há nomes
que constam da lista da Lava Jato. Se houve desvios de petistas, que sejam
apurados e punidos com isenção. Mas a maioria relaciona-se a caixa dois de
campanha, e não a enriquecimento ilícito com contas em paraísos fiscais. Não é
preciso ser “profeta” para prever que poucos irão para o sacrifício, pois a
meta não é a justiça, nem o fim da corrupção, mas “varrer” Lula do páreo nas
próximas eleições. Quanto às elites… bem, têm também seus “bons bandidos”, seus
corruptos de estimação, que deverão merecer a “salvação”.
Deixemos de hipocrisia! Somente uma real reforma política
poderá acabar com a corrupção. Haverá quem se arrependa no momento final?
Fonte: O TEMPO