Começa tudo de novo. Ano de
eleição, disputas político-partidárias, alianças e rompimentos... Tempo em que
os órgãos públicos aceleram seu ritmo habitual, cujo frenesi está muito mais
preocupado com a eleição ou reeleição do Gestor, do que com a prestação do
serviço público propriamente dito; concentra-se muito mais nos servidores, do
que nos cidadãos... O clima fica pesado, porque paira um sentimento de
desconfiança de tudo e de todos, à procura de identificar os "amigos"
e os "inimigos". É preciso alerta constante, porque o espião está
aonde menos se espera. Cuidado, as paredes têm ouvidos!
Qualquer estratégia é válida
para não se prejudicar:
1. Aproxime-se mais do chefe,
aparentando fidelidade e comprometimento incomuns, porque ele está querendo
descontar suas pressões em alguém;
2. Não faça críticas ao serviço
neste período (mesmo que construtivas), porque elas serão mal interpretadas
contra você;
3. Finja-se de idiota, porque
independência intelectual e espírito público causam pavor e serão duramente
reprimidos;
4. Distancie-se das pessoas que
são taxadas como adversários, por mais que sejam seus amigos de longas datas,
porque “amigo de inimigo, inimigo é”; e
5. Nunca, nunca traje
vestimentas com as cores da oposição, porque eles são esquizofrênicos!
Estas são as recomendações
tradicionais, válidas para ontem, hoje e sempre. Mas os novos tempos, reclamam
novas habilidades. Isto porque as redes sociais representam hoje o nosso
principal canal de expressão individual, e os olheiros sabem disso... Vi
servidor ser exonerado por causa de suas publicações e curtidas no Facebook...
Até a página dos seus amigos virtuais são monitoradas, pode acreditar. E qual a
saída para os que querem se manter longe de tudo isso? Lamento, mas não tenho
soluções para você... Terás que participar dos insuportáveis e demagógicos
comícios, afinal, é o leite dos meninos que está em jogo, certo?
Mais uma vez, devo fazer
distinção entre os servidores chamados efetivos (nomeados por concurso) e os
prestadores de serviço (contratados pelo gosto, interesse e necessidade da
administração). Aqueles gozam de certa independência e, por mais que sejam
perseguidos, dificilmente perderão o emprego. Já os outros não têm a mesma
sorte: estes são controlados mesmo, e precisarão de uma virtuosa habilidade
social para escaparem fedendo...
Ao contrário do que diz a lei e
estudamos na faculdade, os prestadores de serviço - “contratados por
excepcional interesse público, nos termos do artigo 37, inciso IX, da
Constituição Federal” - não são servidores públicos (pelo menos em ano
eleitoral). Sevem em última análise à gestão, por uma promíscua relação
política, prejudicial ao interesse público e ao espírito de cidadania. Dizem
que vêm exonerações por aí... E ainda há quem veja muita justiça nisso,
confundindo tragicamente casa civil com comitê de partido...
Luciano silva
Empreendedor e servidor público por
precisão, professor por formação e educador por paixão. É licenciado em
História e geografia pela Universidade Estadual Vale do Acarau-UVA, especialista
em Ciências da Educação e Gestão Escolar, pela Faculdade Evolução. Mantém o
blog Atualidade em Debate... Contato: luciano.diretor@hotmail.com