Imagine
um município em que apenas 50% dos lares são servidos por rede de
esgoto, onde só 30% das lâmpadas em postes funcionam à noite e em
que os custos do transporte urbano são o triplo da média nacional.
Avaliação fornece dados. E dados servem para embasar decisões.
Isso vale para tudo na Prefeitura – inclusive para a educação.
Tratamos
aqui da avaliação que deve ser feita pelas redes de ensino – não
das avaliações internacionais como o Pisa, das avaliações
nacionais, como a Prova Brasil, Como sabemos, essa provas têm sido
aplicadas há vários anos, mas não foram suficientes para provocar
melhorias no ensino. Portanto, é preciso entender o que cabe ao
município fazer. Também não tratamos aqui das provas escolares que
os professores aplicam a seus alunos.
O
que uma rede de ensino deve avaliar? Para que deve avaliar? O que
deve fazer com os dados?
O
ponto de partida é o programa de ensino: ele serve de base para a
avaliação. Diz o que deve ser ensinado a cada ano e em cada
disciplina e, na situação atual em que se encontra o ensino no
Brasil, deve dizer também o que deve ser ensinado em cada período –
normalmente a cada bimestre. Sem programa de ensino, não há o que
avaliar.
Dado
o programa de ensino, cabe ao município avaliar, nas disciplinas
centrais, se os objetivos foram atingidos. Isso pode ser feito para
todas as escolas ou numa amostragem delas. Para isso é preciso usar
testes elaborados de acordo com critérios técnicos. Isso pode ser
feito pela equipe da Secretaria – se houver o pessoal devidamente
qualificado – ou contratado externamente. Um teste bem-feito
permite à Secretaria avaliar o desempenho absoluto e relativo das
escolas, comparar umas com as outras e colocá-las frente a frente
para compartilhar suas experiências.
Mas
o importante é o passo seguinte: o que fazer com os resultados dos
testes. É aí que surge a utilidade dos mesmos. Por exemplo: duas
escolas são semelhantes em tudo e tiveram resultados muito
diferentes; em uma, todas as turmas têm bom desempenho, menos uma. O
que fazer com os resultados?
No
âmbito da Secretaria, cabe analisar, junto aos diretores, os
resultados de cada escola, comparar com as demais escolas e entender
o que leva às diferenças no desempenho. Não se trata de buscar
álibis ou desculpas (ou alunos são pobres, os pais bebem, as mães
não colaboram…). Isso já é sabido. O papel da escola é ajudar
as crianças a superar essas dificuldades, e não usá-las como
desculpa para não avançar.
Mais
do que comparar médias ou destacar as médias mais altas, cabe
identificar a quantidade de alunos que atinge os níveis mínimos –
e o mínimo deve se situar em torno de 70% da nota, num teste bem
elaborado. Ou seja: a meta de cada escola é assegurar que todo aluno
atinja esse mínimo e, com base na avaliação, empreender os
esforços para que isso aconteça. Ao se preparar para ajudar o aluno
com maior dificuldade a escola assegurará o sucesso dos demais
alunos – mesmo porque os melhores deverão ajudar os que têm mais
dificuldade, e, dessa forma, vão melhorar ainda mais. O papel da
Secretaria é ajudar o diretor a identificar os problemas. O papel do
diretor consiste em analisar os problemas havidos em sua escola para
ensinar o programa, as estratégias de outras escolas, identificar e
implementar soluções.
Cabe
registrar um alerta: quando um teste tem consequências fortes
(incentivo para diretores ou professores, para alunos etc.), o nível
de alerta sobe, surgem razões para fraude, pressão indevida sobre
os alunos etc. É possível haver uma combinação de testes
realizados apenas para fins diagnóstico – o que é o mais
importante – e testes realizados também para fins de políticas de
incentivo.
João
Batista Araujo e Oliveira é presidente do Instituto Alfa Beto
(VEJA)