sexta-feira, 21 de junho de 2013

ONDA DE PROTESTOS MOSTRA A CRISE DA DEMOCRACIA QUE INVENTA REALIDADES

Em clima de manifestações pelo Brasil, eis artigo da jornalista Regina Ribeiro, com o título “A revolta de junho e a nossa Bastilha”, publicado no O POVO desta sexta-feira. É a crise da democracia que inventa realidades, que se esconde atrás de um escudo tecnoburocrata”. Confira:

“Em tempos de revolução nada é mais poderoso do que a queda de símbolos”. A frase é do historiador Eric Hobsbawn (1917-2012). Não se pode falar em revolução no Brasil, no conceito puro da palavra, mas vou chamar de “revolta” o que estamos vivendo. E nessa revolta de junho, que desnorteia verticalmente uma sociedade inteira, é possível observar desde agora quais os símbolos que estão vindo abaixo. Para mim, o principal deles é esta nossa democracia autoritária e burocrática que o movimento das ruas atingiu em cheio.

Basta reparar direitinho no discurso dos governantes. Na última quarta-feira, quando o governador Alckmin (PSDB) e o prefeito Haddad (PT) se uniram para anunciar a queda no preço das tarifas do transporte público em São Paulo e amarraram o cavalo num discurso empolado que incluía alterações no orçamento etc e tal, ficou claro que eles não entenderam, ainda, o que os cartazes estão dizendo. Quando leio que o governador Cid Gomes (PSB) afirmou que a ação da Polícia Militar anteontem é de responsabilidade do Governo Federal, ficou me perguntando, sinceramente, quem esse rapaz acha que está enganando.

A queda desse tipo de democracia que inventa realidades, que se esconde atrás de um escudo “tecnoburocrata” e que vive de privilégios, expandidos aos que rodeiam o poder, será positiva para o País. O tamanho do Estado brasileiro também está em xeque, uma vez que não dá conta das expectativas dos seus cidadãos. Não acredito que este seja o tempo para temores exagerados do tipo, a considerar que as manifestações no Brasil possam abrir possibilidades para uma onda direitista ou retrógrada.

A crise nesta democracia que opera em favor dos interesses econômicos, que está fincada tradicionalmente na representação de partidos que se esfacelam do ponto de vista moral e que já não conseguem se comunicar com a sociedade, só alcançou o ponto crítico. Agora, parece que todos veem o abismo que se criou em torno dela. Isso talvez prove que estávamos mesmo caminhando para esta revolta que, embora não se explique imediatamente, a História se impõe como dona do próprio nariz.

* Regina Ribeiro

reginah_ribeiro@yahoo.com.br
Jornalista e editora das Edições Demócrito Rocha




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