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Cada vez encontro mais pessoas
que assumem que estão a um passo da alienação voluntária. Que abstraíram-se ou
estão seletíssimas no que ouvem e leem. São aqueles que outrora eram
"politizados", que opinavam e se colocavam.
Não que deixaram de ter
opinião, mas simplesmente não querem mais emiti-las. Cansaram. Uma aparente
desistência. Estão dentro de suas casas e nas casas dos seus, comunicando-se
através de uma linguagem própria, como que concluindo: não tem mais jeito.
As justificativas são variadas:
desilusão com a política institucional, decepção com os que diziam ser o governo
do povo combinado com o susto do crescimento de figuras e posturas de um
conservadorismo podre defendido até gente de convívio próximo, dentre outras
tantas.
A violência real que mata uma
geração e coloca o Brasil com números de homicídios comparáveis a países em
guerra, sela a opção destes novos alienados, mas agora por vontade própria. Até
um acréscimo no número de casos de suicídio percebemos, e o pior que entre os
jovens, esperançosos naturalmente.
Essa indiferença talvez seja a
mais cruel face da crise de toda ordem que vivemos, porque resulta de um
pensamento lógico construído e conclusivo.
Os filósofos do pessimismo
tomam vida mais uma vez através do seu pensamento que se faz presente. Thomas
Hobbes está em alta: "O homem é o lobo do homem, em guerra de todos contra
todos." Como não, em várias situações cotidianas no Brasil de hoje,
concordar com esse inglês do século XVII? E o Schopenhauer que entende que
"O mundo é a minha representação." e de tal forma denuncia que neste
mundo de representação as coisas têm existência meramente relativa. E ainda
podemos citar o Doutor da Igreja Santo Agostinho, ao compreender que o fundador
da Cidade Terrena foi o fraticida Caim, e, portanto, por aqui, não temos jeito
a dar porque o vício impera. O que mais nos resta? De onde fazer renascer a
esperança? Da arte! Mas até a arte está na mira do conceito monopolizador.
Todavia, ela, a arte, resiste
bravamente, nem que amargamente, entre poucos, aqueles poucos, que declamam com
a melancolia poética de Augusto dos Anjos: "Toma um fósforo. Acende teu
cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que
apedreja."
Vanilo de Carvalho, advogado,
professor universitário, especialista em Direito Constitucional, mestre em
Direito Internacional, conselheiro da Ordem dos Advogafos do Brasil, membro da
Comissão Nacional do Exame de Ordem (Brasília) membro do Instituto Ph, membro
da Academia Brasileira de Cultura Jurídica, Cavaleiro da Ordem de Malta (Roma),
membro da Comissão de Justiça e Paz (vinculado à CNBB), escritor, analista
político-social, educador jurídico.