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Isso só seria verdade se todos soubéssemos a diferença entre “aceitar” e “concordar”. Não sabemos. Então, desafio grande mesmo é compreender que são coisas completamente diversas. Aceito a opinião do meu interlocutor, mas nem por isso eu sou obrigado a concordar com ela. Não mesmo.
É claro que a pessoa a quem me
refiro queria mesmo é que eu dissesse “tá bom, você venceu, a sua opinião é
muito melhor do que a minha e a partir de agora eu vou jogar no lixo tudo o que
penso só para pensar igualzinho a você”. Como isso não aconteceu e a minha
interlocutora não conseguiu o que queria, ela não fala mais comigo. Já vai
tarde. Não tenho paciência para quem não aprendeu em casa que “aceitar” ideias
alheias não significa adotá-las como se fossem nossas, concordar com elas e
sair por aí repetindo o seu conteúdo feito um papagaio. É tão somente respeitar
o fato de que todos podemos pensar como quisermos.
Para mim, a vida tem toneladas
de outros desafios pequenos, médios e grandes, enormes desafios inacreditáveis,
atravessados no meio do caminho à espera de alguém que se disponha a
resolvê-los, enquanto uma multidão joga fora seu tempo discutindo se quem
nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha. Que importa? O que interessa se as
minhas impressões divergem das suas? Quem disse que você precisa me convencer
de algo ou “vencer” a peleja como um cavalo de corrida? Por que não concordamos
em discordar quando quisermos e pronto?
Aceitar uma opinião diferente
da sua não significa ser obrigado a concordar com ela, não. É só aceitar que
ela existe. Concordar que discordamos. Deixar o outro pensar como quiser e não
perder tempo tentando convencê-lo a pensar como nós. Isso é estupidez,
prima-irmã da intolerância e de todo mal que se arrasta por aí. Se aquilo que o
outro pensa é mesmo tão inadmissível, afaste-se e não se fala mais nisso.
Meu velho pai e eu discordamos
em tudo. Assim é desde sempre. Nossas ideias divergem e se contrapõem. Mas
hoje, com o tempo e a distância, ele e eu desistimos de convencer um ao outro
sobre qualquer coisa. Ficou mais fácil. Até o início da minha vida adulta,
quando vivíamos na mesma casa, era difícil. Nossas divergências nos faziam
muito infelizes. Mas aí passou. Amo meu pai, ele decerto me ama e nós
aprendemos a concordar um com o outro só quando queremos.
Rejeitar opiniões alheias é um
direito nosso. Eu, você e todo mundo podemos fazê-lo sem que nos acusem de
arrogância, falta de escuta e essas coisas. Agora, se decidirmos aceitá-las,
nem por isso precisamos mudar o que pensamos. Aceitar que o outro pense
diferente de mim é bem diferente de concordar com o que ele pensa.
Adaptação
textual: Professor Luciano Silva
Servidor
público por precisão, professor por formação e educador por paixão.
Texto
original: André J. Gomes
Jornalista de formação, publicitário de
ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.