Sempre que o ser humano se
depara com uma situação que expõe seus valores e exige uma reflexão mais
profunda sobre seus princípios, reavaliando seu comportamento e sua postura
social como o melhor não só para ele mesmo, mas o melhor para todos os outros,
condiz com a atitude de um cidadão ético; mas quando as ações advindas das
decisões apresentam consequências danosas na vida de outras pessoas, com o
intuito de tirar vantagem, de ludibriar, de sufocar o direito do outro, se age
de maneira antiética.
Estamos diante de um quadro
atual onde muitas vezes prevalece a lei do vale tudo, do jogo sem regras e que
vença o melhor, o mais astucioso e preparado, numa disputa de interesses onde
os riscos parecem não existir e o escrúpulo não deixa de ser uma palavra
insignificante ou que não vale a pena ser pensada. Assim é a ética numa
sociedade corrompida, um termo genérico, sem eficácia e em desuso por aqueles
que usam máscaras e fazem uso do sistema público a bel prazer, dissimulando,
traindo e agindo de modo escuso.
É muito comum e corriqueiro o
uso da palavra ética para sinalizar atos de decência, de honestidade e de bons
modos, quando os atos apresentam repercussão de um ser humano preocupado com o
outro, e que tem total consciência de suas responsabilidades na vida de outros
seres humanos. Também é comum nos deparamos cotidianamente com ações
consideradas antiéticas que simplesmente desmoralizam e propagam a degradação
do homem.
A sociedade está envolvida em
dilemas que exigem uma postura ética ou antiética, portanto uma decisão, e que
põe em jogo o caráter e a reputação individual. Uma decisão ética não é fácil,
porém é o que ainda sustenta uma sociedade nos padrões aceitáveis de
civilização, é o que torna o homem mais humano e abnegado, cujos preceitos
morais são responsáveis por conduzi-lo com honra, numa sociedade onde os
princípios éticos e morais às vezes são censurados como bobagem e tolice, como
um conjunto de regras insignificantes.
O homem é portanto, corrupto
por natureza? Ainda existe ética no meio social ou tudo não passa de regras que
podem ser quebradas? Por que muitas pessoas ainda defendem a corrupção como um
meio legal e cabível a todos que estão no poder? São perguntas que agitam a
mente e geram discussões controversas.
Considero um verdadeiro pecado,
o ser humano se tornar indiferente à falta de ética, uma vez que o
comportamento social é determinante para uma relação harmônica e pacífica entre
todos os homens. Como seria um mundo onde o respeito, a honestidade, a
tolerância e a decência não existissem, subsistindo a indecência, a improbidade
e o egoísmo? Atrevo-me a dizer que caminharíamos para o caos e a ruína da
humanidade.
Muitas vezes reclamamos sobre a
postura daqueles que elegemos e que fomos responsáveis por sua presença no
poder acusando-os de corruptos e de tantos outros termos depreciativos para
expulsarmos tamanha indignação que nos sufoca, mas não refletimos sobre nossa
própria postura social, política e humana.
O que quero dizer é que não
basta somente reclamarmos e o uso generalizado de impropérios e insultos contra
aqueles “homens corruptos” que buscam corromper a maioria da camada social
comprando a dignidade que o cidadão nutre dentro de si. O que precisa ser
pensado é que quando a pessoa desvia seus atos da moral e dos valores éticos,
ela também é corrupta ou se caminha para um processo de corruptibilidade; e aí
ela perde o direito de reclamar contra o corrupto que está no poder, pois suas
atitudes se tornam coniventes com o princípio da desonestidade e da injustiça.
Aceitar suborno ou subornar,
trocar o voto por qualquer objeto, violar leis para obter algo de valor,
sonegar imposto, furar fila, e etc. são algumas das atitudes vergonhosas que exibem
o caráter de alguém que falte com ética na sociedade. Significa que quando o
cidadão falta com a ética no seu meio e se corrompe, ele perde o direito de
reivindicar, porque sua condição se concilia e se iguala ao do “corrupto”.
Todavia isso não significa acreditar que todos os homens são passíveis de se
corromper. Na verdade isso é um pretexto dos corruptos e corruptores: querer
nivelar todos os homens como suscetíveis à corrupção e à desmoralização social.
A ética é arma que os homens
íntegros, honrados e impolutos têm para combater a mácula da desonra e
indecência geradas pela política antiética. A ética fortalece uma política
íntegra e limpa que deve ser construída perante a presença de homens que não
carregam a mancha do opróbrio, da infâmia e do sadismo. Portanto, a ética é
como a bússola que aponta o rumo certo e diz respeito a toda a sociedade lesada
e prejudicada por modelos de governos insanos e torpes, marcados pela
incompetência e a frustração.
(O Folheto)