Senso
comum
O que é o senso comum? Por que
nós, os intelectuais, geralmente somos tão reticentes a tudo que consideramos
“senso comum”: a cultura popular e de massa, a religiosidade, linguagem não
formal, etc.? Há até mesmo os que têm dificuldades em se relacionar com as
pessoas comuns, isto é, os simples mortais que não frequentam os bancos
universitários ou mesmo acadêmicos, tão influenciados pela indústria cultural,
que não conseguem ver além dos próprios narizes e… umbigos. Suas conversas
sobre o cotidiano, o corriqueiro, quase que crônicas da vida, até irritam
alguns entre nós. E muitos se exasperam quando leem o que seus alunos escrevem
e notam que eles não conseguem analisar e avançar pelo menos um passo para além
do senso comum. Outras vezes, o nosso intelectualismo nos torna chatos e
incapazes de dialogar minimamente com os comuns dos mortais sobre as coisas
mais simples da vida – em geral, temas que consideramos supérfluos, perda de
tempo… A resistência ao que consideramos senso comum, portanto, conhecimento
não-científico, desqualificado, é tão forte no meio acadêmico que até mesmo os
estudantes tem a expectativa do “discurso professoral”. A medida da
inteligência passa a ser a ininteligibilidade. Quanto menos você se faz
entender, mas inteligente parece ser!
O
teatro político
Na política o “normal” é
representar. O político necessita ser um excelente autor para convencer a si
mesmo e aos outros, seus potenciais eleitores. É necessário fazer acordos,
agradar a gregos e troianos. A dissimulação e o jogo das aparências faz parte
do seu habitat natural. Até porque, a rigor, não estamos preparados para a
verdade. A mentira é uma necessidade dos homens e mulheres comuns e, também,
dos políticos. Os políticos bem-sucedidos são os que representam bem os seus
papéis. Não por acaso, os consideramos nossos representantes. Ou seja, somos a
plateia que aplaude ou vaia. De qualquer forma, eles atuam por nós…
Educação
e Sociedade
A sociedade requer um ensino
voltado para a carreira escolar. Em geral, não interessa se a educação torna
nossos filhos melhores homens e mulheres, indivíduos mais conscientes sobre a
realidade social, sobre os dilemas que a vida impõe. Não. Quer-se simplesmente
que a escola prepare para ter sucesso no vestibular. E o mesmo raciocínio vale
para muitos dos que conquistam a vaga no ensino superior. Pouco importa o mundo
ao seu redor, desde que não atrapalhe os planos individualistas de ganhar mais
dinheiro e ter uma carreira de sucesso. A universidade forma indivíduos cada
vez mais descomprometidos social e politicamente com a comunidade, a sociedade
e o mundo em que vivem.
Revolucionários
profissionais
Na verdade, o questionamento da
política institucional partidária não é novidade: os índices de votos nulos,
brancos e dos que se abstém de votar, indicam-no; a exígua votação que os
partidos de esquerda de filiação marxista e socialista também precisa ser
levado em conta. A verdade, porém, é que, em geral, as vanguardas não se
preocupam com isto, pois as eleições são concebidas apenas como um dos momentos
privilegiados para a propaganda ideológica. Eles se preparam para a revolução,
para dirigi-la. Veem-se como revolucionários profissionais, sinceros
profissionais da revolução em suas casamatas burocráticas. Quem ousa duvidar da
sinceridade revolucionária, ainda que alguns se percam no pragmatismo e a sua
práxis política negue o discurso e teoria professados?