O governador Cid Gomes acusou o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, de ter vazado para a imprensa relatório do Tribunal de Contas da União, de agosto passado,
informando que a capacidade de pagamento do Ceará “inspira cuidados”, conforme
análise da Secretaria do Tesouro Nacional, órgão subordinado ao Ministério da
Fazenda. Segundo o documento, um empréstimo feito pelo Ceará junto do Banco
Mundial foi liberado, em caráter de excepcionalidade, somente depois de um
pedido do próprio ministro.
Sobre o suposto vazamento para os jornais, o
governador foi taxativo: “Esse Guido Mantega vem procurando retaliar o Estado
do Ceará. Isso é uma posição pessoal em relação a mim”.
Questão pessoal
A reação é estranha e fere o decoro institucional que
se espera das autoridades. O tratamento “esse Guido”, mais do que um arroubo de
indignação, remete a uma tentativa de desqualificação pessoal que leva para o
campo da intriga, o que deveria ser um debate técnico: afinal, como anda a
capacidade de endividamento do Estado?
História mal contada
Existe ainda nesse imbróglio um lacuna lógica. Se
Guido atuou para liberar um empréstimo desaconselhado pelo Tesouro Nacional,
seria de seu interesse ocultar a operação e não o contrário. Nesse sentido, a
conta não fecha.
Tanto é assim que a resposta do ministro procura justificar a operação, afirmando que o Ceará
tem baixo endividamento, contrariando análises técnicas do próprio ministério.
Algo aconteceu entre o mês de agosto, quando Mantega quebrou o galho da gestão
Cid, e dezembro.
O fato é que o documento atinge a imagem de gestor de
Cid e foi parar na imprensa nacional. A reação imediata, ao que tudo indica,
foi buscar um bode expiatório: Guido Mantega.
Eterno complô
O apelo ao emocional, a vitimização, a personificação
do Ceará na própria imagem (críticas à gestão viram ações contra os cearenses),
a espetacularização das divergências e a transformação de problemas em ações de
inimigos pessoais, constituem uma espécie de recurso padrão para situações que
constrangem os interesses do governador. Uma rápida busca no Google basta para
conferir isso:
– Junho de 2011, sobre o então ministro dos
Transportes, Alfredo Nascimento:
“É um ministro inepto, incompetente e desonesto, que a
frente desse ministério já há vários anos tem discriminado o estado do Ceará e
feito com que as nossas BR’s tenham características absolutamente diferentes”.
– Janeiro de 2013, sobre o procurador Glaydson
Alexandre, no caso dos gastos com a contratação de Ivete Sangalo para a
inauguração de um hospital:
“O que é o Ministério Público de Contas? É um garoto
que deseja aparecer e fica assim criando caso. O MP é uma parte. Ele entrou com
uma ação, o presidente do Tribunal indeferiu e aí, pra ganhar mídia, pra ficar
aparecendo na imprensa, fica fazendo recurso”.
– Outubro de 2013, sobre o governador de Pernambuco e
presidente do PSB, Eduardo Campos:
“Quando a gente tem um tapete puxado sem esperar, a
gente cai e quando se levanta, tem muitos apoios. Não cogitava sair do PSB, mas
devido à postura de hostilidade com a gente, saímos”.
– Outubro de 2012, sobre a ex-aliada e ex-prefeita
Luizianne Lins:
“É vaidosa demais, é arrogante demais, é personalista
demais e nada do que não é espelho interessa para ela”.
– Março de 2010, Ciro Gomes sobre o ex-ministro da
Casa Civil, José Dirceu:
“Dirceu não está fora (do jogo político). Ele foi
visitar o governador do Ceará e disse com toda a delicadeza que se o irmão dele
fosse candidato a presidente, ia fazer o PT ir contra ele (Cid) no Ceará”.