O médico, antropólogo e professor
universitário Antônio Mourão comenta o uso de avião da FAB, por parte do
presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, que juntou a
família para assistir a final da Copa das Confederações. Confira:
Em plena
crise, com povo na rua, manifestações populares estourando por todos os cantos,
o Brasil vive momentos de perplexidade. Há uma espécie de catarse social:
ninguém aguenta mais! Chega de corrupção e apropriação da coisa pública.
Estes
episódios deveriam causar alguma consequência. São recados diretos para a
instância política. Entretanto, em plena efervescência, o presidente da Câmara
dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), achou de mobilizar um avião da
FAB para, com sua patota familiar, assistir à decisão da Copa das Confederações
no Rio de Janeiro.
Denunciado,
ele apenas considerou um “equívoco” e decidiu reembolsar o Tesouro com R$ 9,7
mil. Indenizando, fica tudo ajustado. Foi só uma questão de vacilo. Não vendo,
pode. Princípio básico do que configura, em psiquiatria, o que chamamos de
psicopata. “Pas vu, pas pris!”
Dessa forma,
ele pensa ter encerrado o assunto. Para ele, essas manifestações não têm nada a
ver com a sua conduta. Ele sempre pode. Por que não poderia agora? Maria
Antonieta no arvorecer da Revolução Francesa comentou com sua camareira: mas
por que esse povo grita tanto? Ao que a assistente explica: “Querem pão,
majestade. Pão! Porque não tem pão”. Diz solene a rainha: “Se não tem pão, por
que eles não comem brioches?” (espécie de biscoito)
Há uma
postura de desdém, de apropriação. De que o cargo – no mais das vezes comprado
– é dele. Não se trata de uma representação. Não precisa dar explicações,
justificativas. A voz rouca das ruas está gritando o contrário. Querendo que se
volte à essência da democracia.
Nesta quinta
(4/7), o jornal Folha de S. Paulo noticiou que o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), usou avião da FAB para viajar de Maceió a Porto Seguro no
dia 15 de junho. Renan, segundo o jornal, foi participar do casamento da filha
do senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Renan, com toda a empáfia: “Deixa eu
explicar. O avião da FAB, usado por mim, é um avião de representação. E eu o
utilizei como tenho utilizado sempre, na representação como presidente do
Senado”.
E fim de
papo.
Em artigo no
O POVO deste sábado (6).